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Conflito ou continuidade? O impacto das disputas familiares no valor da empresa

O peso das disputas familiares


Conflitos em empresas familiares são inevitáveis, mas quando não são tratados de forma estruturada podem se tornar ameaças reais ao patrimônio e à reputação. Pesquisas globais da PwC mostram que apenas 19% das empresas possuem mecanismos formais para resolução de disputas familiares, enquanto quase um quarto admite que os conflitos acontecem com frequência¹. Esses números revelam que a maioria das famílias empresárias ainda confia na improvisação — um risco considerável quando se trata de negócios que sustentam empregos, comunidades e, em muitos casos, setores inteiros da economia.


Não é exagero dizer que um conflito mal resolvido pode ter efeitos tão graves quanto uma crise financeira. Divergências familiares comprometem decisões estratégicas, atrasam investimentos e corroem a confiança entre sócios. O resultado? Paralisação, perda de competitividade e, em casos extremos, a venda da empresa em condições desfavoráveis.



Quando a disputa corrói valor


Mercados percebem instabilidade rapidamente. Para bancos, investidores e fornecedores, conflitos internos são sinal de fragilidade institucional. Casos relatados por consultorias internacionais mostram empresas familiares que perderam valor de mercado e controle acionário após embates entre herdeiros². A imagem de solidez construída ao longo de décadas pode ser desfeita em poucos anos de disputas abertas.


Internamente, o efeito não é menor. Quando membros da família deixam de dialogar, a empresa passa a operar em “ilhas”: cada grupo com sua própria visão, decisões sendo tomadas sem coordenação e equipes sem clareza sobre prioridades. Esse ambiente gera lentidão, reduz inovação e diminui o engajamento dos colaboradores. No médio prazo, isso significa perda de participação de mercado e enfraquecimento da marca.



Prevenção como estratégia


Apesar do cenário desafiador, existem formas de transformar potenciais crises em oportunidade de continuidade. A PwC recomenda seis medidas-chave: alinhar propósito, instituir conselhos de família, formalizar regras de sucessão, separar assuntos emocionais dos temas de negócio, garantir equidade no tratamento de familiares e adotar mecanismos claros de mediação¹. Não se trata de eliminar divergências — mas de criar fóruns seguros e estruturados onde elas possam ser tratadas.


Muitos grupos familiares têm adotado family charters — documentos que estabelecem valores, princípios e diretrizes para a gestão conjunta. Embora não tenham força jurídica, funcionam como bússola ética e cultural. O Financial Times cita o exemplo da família Mitsui, que mantém esse tipo de carta como referência há gerações, garantindo coesão mesmo diante de mudanças profundas³.



O papel da liderança


Nenhum instrumento, porém, substitui a importância da liderança. Fundadores, sucessores e conselheiros que cultivam uma cultura de diálogo e transparência reduzem as chances de divergências virarem rupturas. Famílias que conversam sobre propósito, papéis e expectativas geracionais demonstram maior resiliência frente a crises².


Aqui entram também as chamadas soft skills: capacidade de ouvir, negociar, mediar e construir consensos. Em muitos casos, a habilidade de comunicação é mais determinante para a continuidade do que o conhecimento técnico. Líderes que conseguem transformar divergências em debates produtivos mantêm a família unida e o negócio competitivo.



Conflitos familiares são inevitáveis. A escolha que define o futuro é se eles serão destrutivos ou construtivos. Quando há governança, mecanismos claros de resolução e uma cultura de confiança, divergências podem fortalecer a empresa e abrir caminho para inovação. Sem isso, tornam-se forças corrosivas que minam valor, reputação e legado.


O desafio das empresas familiares, portanto, não é evitar conflitos, mas aprender a transformá-los em continuidade. Essa é a diferença entre uma história interrompida e um legado duradouro.



Referências


1 PwC – Global Family Business Survey 2021: apenas 19% possuem mecanismos formais para disputas familiares; 23% relatam conflitos frequentes. Disponível em: https://www.pwc.com/gx/en/services/family-business/family-business-survey-2023/download/FamilyBusinessSurvey-series.pdf

2 PwC – Family Business Survey 2021: impactos de conflitos não resolvidos e recomendações práticas de governança familiar. Disponível em: https://www.pwc.com/gx/en/family-business-services/family-business-survey-2023.html

3 Financial Times – uso de family charters por famílias como a Mitsui para manter coesão e preservar valor. Disponível em: https://www.ft.com/content/e3e25299-8d05-41da-83e0-5e92bff18254

4 OPENAI – ChatGPT. Ferramenta utilizada como apoio para revisão de clareza textual e organização de ideias. Disponível em: https://chat.openai.com/


 
 
 

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